quarta-feira, 27 de abril de 2011

A conversa com Be-1ne - Area Recordings


Take a step to Dub - Em primeiro lugar, como estás?

Be-1ne - Estou muito bem, obrigado.

TSD - Para iniciar essa entrevista gostaríamos de saber um pouco acerca de ti. Quem é o Be-1ne?

Be-1ne é o nome com que eu (Ben Ewins) tenho tocado como DJ e produzido ao longo de muitos anos.

Comecei como DJ em 1995 / 96, sendo que na altura meu género principal era Hip-Hop e beats instrumentais, mas gostava de sair e ouvir tudo desde Soul/Funk a D&B e House.

Conheci a produção por volta de 1998, mas não a explorei realmente até ao início de 2000.

TSD - Quando é que o djing/produção entrou na tua vida? E qual o seu impacto?

B1 - Quando eu saía, eu gostava de me sentar e ouvir os DJ’s a misturarem, eu realmente não entendia o conceito no início, mas quanto mais eu saía mais me interessava por ele.

O meu primeiro conjunto de decks, eram umas coisas horríveis de correia, muito maus mesmo!

Enquanto eu ia ficando mais por dentro do DJing e do Scratch, descobri como ser mais musical do que apenas tocar discos e trabalhei arduamente para desenvolver isso, em meados de 2000 tinha um sítio onde tocava sets, regularmente durante 5/6 horas, isto foi muito divertido e permitia-me construir o set durante uma noite inteira, tocando muitos estilos e géneros diferentes.

Através das minhas experiências de DJing e de trabalhar com outros produtores, a passagem para a produção foi como um passo natural, aprendi os fundamentos de sequenciação muito rapidamente, mas não trabalhei em nada concreto como Be-1ne até cerca de 2005 /06.

A medida que levei as coisas mais a sério e comecei a estar mais concentrado, comecei a produzir melhor e mais frequentemente, chegando ao final de 2008 com uma série de faixas que eu tinha terminado, e que continuei a produzir desde então.

TSD - Como descobriste o Dubstep e o que gostaste nele?

B1 - De início achei o Dubstep muito aborrecido isto em 2005, eu estava muito mais dentro do Breakbeat e do que é agora a cena Beat, vinda de LA.

Peguei no remix de Loefah de Vex’d – 3rd Choise, no final de 2007 e realmente percebi ao que a música tinha chegado e achei que era algo com que eu me podia relacionar e quis envolver-me como produtor.

TSD - Como é o teu processo de criação musical?

B1 - Quando me sento para fazer uma música, geralmente começo com algum tipo de som de pad, o que me dará diferentes ritmos na minha cabeça da forma como gostaria de construir a percussão, assim que tenha alguns elementos percussivos e o beat básico vou procurar sons de sintetizador para juntar, antes de acrescentar algum baixo, na maioria das vezes a faixa terminada é muito diferente de como começou porque a edito bastante desde que fiz o arranjo inicial.

TSD - Qual foi tua visão quando iniciaste a Area Recordings?

B1 - Iniciei a Area Recordings por vários motivos.

Onde vivo é muito isolado musicalmente e sinto-me, muitas vezes, sozinho como produtor, porque não existe noite ou uma cena que ajude a minha música, todos querem músicas barulhentas e a minha música é mais profunda, ou inteligente? como lhe quiserem chamar, eu tinha produzido muitas músicas, talvez cerca de 25 / 30 e perguntava-me o que fazer com elas, não achei que alguma editora ficasse interessada e então decidi criar a minha própria, achei que preferia ficar no controlo da minha música do que deixar outros fazê-lo.

Eles podem fazê-lo melhor, mas pelo menos eu tentei fazer por mim.

Quando ouvi algumas faixas do meu amigo Lysergene senti que estas se complementavam e decidi criar a Area Recordings, em 2009 quando tive a ideia, o Brostep ou Hype ou lá o que lhe chamam, foi-se tornando muito popular e todos diziam que a música deep era aborrecida, como não podia comprar aquilo que queria tocar, pensei que haveria mais gente na minha situação, então decidi editar a minha música para que eu e outros DJ’s, que pensassem da mesma forma, tivéssemos algo de novo para tocar.

E agora aqui estamos, um ano depois com a nossa quarta edição.

TSD - O que te motiva?

B1 - Boa pergunta. Eu gosto de ser criativo e fazer coisas que acho interessantes, tenho quase sempre trabalhado com música, assim: djing, produzir, iniciar uma editora é quase uma progressão natural.

A motivação muda muitas vezes, neste momento estou motivado para fazer o melhor que puder para os artistas da próxima edição (ARE005) e ajudá-los a obter algum reconhecimento para a sua música, assim como puxar por mim para me tornar mais criativo e dar um empurrão no que considero ser o som da Area, em Dubstep e música electrónica.


TSD - Na tua opinião, quem é o público que se identifica com as tuas edições?

B1 - As pessoas que seguem o som da Area Recordings, eu penso que são fãs do Dubstep e que procuram algo um pouco diferente da maioria da música que está disponível. Com muitas das editoras, a distribuir, o que as pessoas pensam ser estilos mais comerciais, é preciso que haja editoras mais pequenas, a editar música para o pessoal que ainda tem uma paixão pelo vinil e pelo djing com pratos.

TSD - Como te sentes tendo sido nomeado para melhor nova editora nos DubstepForum Awards 2011?

B1 - Sendo uma pequena editora, é uma grande honra, e é bom para ganhar algum reconhecimento de que a minha editora faz parte de uma cena e que está a tentar ajudá-la a desenvolver-se e a crescer.

Esperemos que possamos continuar a crescer sobre a sua fundação e chamar mais gente para o seu som

TSD - Como vês o actual estado do Dubstep?

B1 - Penso que Dubstep está numa fase de transição, como o D&B estava em meados e finais dos 90, penso que as noites tem necessidade de se tornar um pouco mais especializadas novamente, penso que é possível ter uma noite "deep" sem ser aborrecida, pois ainda há tanto que pode ser explorado dentro do som, as pessoas dizem que Youngsta, por exemplo, toca deep Dubstep, no entanto ao ouvir o seu set e em seguida ouvir alguns trabalhos da Area, vê-se que eles são bastante diferentes, eu imagino os produtores a fazer mais faixas e a tocar músicas para eles ou para as suas editoras, o que iria trazer de volta o estilo do sound system á música.

Em vez de termos apenas um DJ a misturar, seria mais uma performance ao vivo; mas por favor, club's arranjem uns pratos!!

TSD - Em termos musicais, que projectos chamaram a tua atenção nos últimos tempos?

B1 - Tenho a dizer que o movimento independente tem sido o estilo mais interessante para mim nos últimos tempos, realmente trouxe de volta as possibilidades de experimentação e de seres diferente com o teu som, mais uma vez que vejo o Dubstep a avançar, os estilos são muito amplos mas claramente definidos pelos seus sons.
Existem diferentes estilos de faixas, mas todas resultam bem juntas num set.

TSD - Tens um programa na Sub FM, todas as segundas-feiras. O que sentes a fazê-lo?

B1 - O programa da Area Recordings é agora de duas em duas semanas (ver aqui as datas - http://arearecordings.com/radio.html ).

Eu realmente aprecio fazer o programa, sinto que posso mostrar mais agora que o programa não é transmitido todas as semanas.

Conheci alguns produtores extraordinários através do programa e adoro ter oportunidade para mostrar a música deles aos meus ouvintes e ser mais eclético no que toco, ganhei um bom número de seguidores e queria agradecer-lhes por ouvirem cada emissão.

TSD - O que pensas sobre o papel da Internet na promoção do Dubstep?

B1 - Eu acho que o Dubstep não seria tão grande como é agora, sem a Internet.

É impossível que as pessoas pudessem ter sido capazes de ouvir o som de outra forma, se olharmos por exemplo para o UKG, foi uma cena muito pequena nos clubes e na rádio pirata, agora que temos a Internet o Future Garage, como é chamado, torna-se muito mais popular porque é muito mais fácil para as pessoas o explorarem e encontrarem diferentes músicas, mais uma vez, se olharmos para o Drum & Bass, que existe há muitos anos, antes de se tornar conhecido globalmente, se tivesse a Internet como apoio em 1990, o som teria sido espalhado muito mais rapidamente.

TSD - Quais são os teus objectivos para o futuro?

B1 - De momento o meu principal objectivo é expandir a Area Recordings, de modo a que possa sair e tocar o som para as pessoas, tenho um leque de artista para editar no Verão, que tem algumas músicas óptimas, algumas de produtores conhecidos, que se vão começar a ouvir por vários DJ’s, e algumas de menos conhecidos cuja música espero ajudar a difundir, para além disso estou a trabalhar num álbum ou EP, para distribuição no final do ano ou início do próximo, juntamente com um outro single antes de 2012.

TSD - Qual a pergunta que nunca te foi feita e que gostarias que te fizessem?

B1 - Pergunta = Qual o teu álbum favorito?

Resposta = Bill Laswell – Dreams of Liberty – Ambient Translations Of Bob Marley

TSD - Para terminar queres deixar uma mensagens aos nossos leitores?

B1 - Um imenso obrigado para o pessoal do “Take a Step to Dub” pela entrevista.

Espero que apreciam a mix, e um dia adoraria ir a Portugal tocar para vocês!

Outlook Festival Competition Entry by Be_1ne on Mixcloud



Ps: Can find the English version here.

Entrevista - TSD

Tradução - Diogo Neves de Sousa

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